As lembranças das horas cuidando da pequena coleção de bonsais ainda são vivas, como se fossem ontem. A primeira olhada geral nas plantas, depois da viagem de cerca de quatro horas de São Paulo ao Sul de Minas, era aguardada com expectativa. Na rápida passagem de olhos, identificava as que pediam poda, aquelas cujos ramos precisam ser retrabalhados com arame para dar a forma desejada, outras que precisavam apenas do peso de uma pequena pedra presa na ponta da ramagem para vergá-la um pouco mais.
Aos poucos, fui aprendendo a moldar as plantas à imagem do bonsai idealizada em minha mente, um processo demorado, de muita paciência, de erros e acertos, pequenos consertos, muita concentração e longos momentos de silêncio. Um jogo delicado e ao mesmo tempo complexo, em que aprendia com a natureza sendo transformada, enquanto me tornava também diferente, mais persistente nos detalhes, mais sonhador, mais paciente, mais sóbrio.
Da mesinha de trabalho no espaço do studio coberto pelo toldo bege podia observar a exuberância das plantas, trepadeiras, samambaias e heras do quintal, um verdadeiro oásis, onde sabiás, bem-te-vis, canarinhos e sanhaços pousavam em busca de fruta ou quirera de milho colocados na casinha de madeira feita especialmente para eles. As horas passadas cuidando dos bonsais valiam a viagem, faziam me esquecer da correria da cidade grande, despertavam a curiosidade dos pais e, com o tempo, também o seu ciúme porque a visita que eu fazia todos os meses era, em última instância, para eles.
No início, estranharam meu gosto extravagante. Essa história de bonsais não daria certo, davam muito trabalho e morriam mesmo assim, dizia minha mãe, com base na experiência de uma amiga presenteada com um exemplar. Custei para convencê-los de que o projeto do studio daria certo e que estava tendo aulas com um colecionador e professor de bonsai que conhecera na viagem de férias a Paraty.
Ao verem a coleção aumentando, com espécies e formas tão diferentes, passaram a admirar e a apoiar mais decididamente o projeto. O studio logo se tornou um dos locais mais valorizados do enorme quintal, que faziam questão de mostrar às visitas e aos amigos.
Os anos de felicidade terminaram bruscamente, com a passagem de um tornado que destruiu tudo que encontrou pela frente, inclusive meu adorado espaço de bonsais. Consegui recuperar três exemplares que trouxe para São Paulo. Ainda sonho em passar os anos que me restam cultivando bonsais em algum lugar.
Percebe-se que havia e ainda há vida no local. Uma energia restauradora que permanece nas fotos e certamente ainda pode ser sentida no ambiente.
Ademar
Acredito que dará novamente vida a este local que agora te pertence.