Caminhando pela calçada da Lacerda Franco em direção aos restaurantes e bares que tornam a confluência dos bairros Pinheiros, Vila Madalena e Alto de Pinheiros um verdadeiro agito nas noites mornas de verão, chega-se ao cruzamento da rua Morás, que termina um pouco adiante na movimentada Pedroso de Morais. Neste pedacinho de rua, sombreado por árvores frondosas, depara-se com uma sequência de imagens pintadas no muro alto de uma residência. São intervenções diversas, talvez feitas em momentos distintos, certamente cada uma delas com propósito único. Embora me interesse pelo conjunto, cada imagem requer uma leitura em separado.
A primeira a chamar a atenção tem uma pergunta estampada no alto da testa, tão chamativa quanto a ansiedade por uma resposta: Tô gato? O olhar tristonho, quase bestializado, parece refletir o sentimento de amargura por saber que não há beleza nos traços da figura que se interroga e interroga o transeunte que passa. Os dentes que os lábios não conseguem cobrir ressaltam sua estranheza. Não consegue também esconder a melancolia do olhar. O sorriso forçado pelo movimento dos músculos faciais, demarcado pela filigrana de nervos que afloram na pele, torna a imagem ainda mais patética em sua dor e solidão. Uma imagem comovente.