O prêmio Nobel de economia concedido a três economistas chamou atenção, desta vez para o foco de suas pesquisas. As análises sobre o mercado de trabalho demonstram que um ano a mais de estudo contribui para o aumento efetivo da renda e desfazem a ideia de que a alta do salário mínimo provoca o desemprego. Elementos de peso para justificar o investimento na educação e em políticas de redistribuição de renda, especialmente no Brasil, onde o combate à pobreza e à desigualdade social tornou-se premente.
Ainda no plano internacional, o alerta do FMI de que “ a crise provocada pela pandemia de covid-19 vai deixar uma ‘marca duradoura’ nas finanças dos governos, na desigualdade, na pobreza e no PIB de muitos países” é um indicativo do cenário que estamos por enfrentar nos próximos anos, agravado pela situação combalida da economia e perspectivas pouco promissoras de crescimento (projeção do FMI de cerca de 1,5 % para 2022).
Com a inflação fora de controle, afetando diretamente os que vivem do salário, especialmente aqueles que se inserem de forma precária no mercado de trabalho, para não falar dos milhões de trabalhadores dele excluídos, o BC recorre à elevação da taxa Selic (1% a cada reunião do Comitê de Política Monetária, com a expectativa de chegar a 8.75% até o final do ano) para conter a elevação dos preços. Conhecemos os efeitos colaterais da medida e a que interesses, de fato, atende (rentismo). Com o país às vésperas de uma eleição, diante da turbulência política e da falta de rumo na economia, o Risco Brasil deu um salto de 24%.
Com o agravamento da questão social – diminuição da renda, aumento da pobreza, insegurança alimentar e fome se alastrando – o governo ainda não sabe que medidas tomar (aumentar o valor do Bolsa Família e criar auxílio temporário ou criar novo programa social), assim como não encontrou a solução para financiar programas sociais (recursos advindos de mudança no IR ou da venda de ações da Petrobras). Situação inaceitável, comprovação inequívoca de incompetência e de desgoverno, motivos mais do que suficientes para apear Bolsonaro do poder, além de outros. No entanto, não há indícios de que isto venha a acontecer.
Lira está mais preocupado em passar o rolo compressor na Câmara e livrar a própria cara e de parte significativa de seus pares de eventual punição por crimes de corrupção do que “apertar o botão amarelo” que desencadeia o impeachment do presidente. Disse que não há prazo para a análise dos pedidos de impeachment e defendeu que o Supremo rejeite a ação do PDT para obrigá-lo a se manifestar sobre o assunto. A defesa do Ministério Público Eleitoral ao TSE de serem rejeitadas as ações que solicitam a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão em função da manipulação de informações nas redes sociais nas eleições de 2018, joga água neste moinho. A ação dos partidos de esquerda e a pressão popular ainda são frágeis para reverter esse quadro.
Partidos de direita, além de continuarem desfrutando das benesses advindas do pacto para assegurar a governabilidade, têm outras prioridades. De acordo com matéria publicada na FSP, “PP, PSD e União Brasil, legenda que será criada com a fusão de DEM e PSL, disputam palmo a palmo o passe de possíveis candidatos a governos, Senado e Câmara. O objetivo central dos três partidos é eleger a maior bancada na Câmara dos Deputados, desempenho que definirá o tempo de propaganda eleitoral e o volume de recursos dos fundos partidário e eleitoral ao qual terão acesso na legislatura de 2023 a 2026”. Ou seja, a campanha eleitoral de 2022 já está em curso., com a Folha de São Paulo e a Globo fazendo os primeiros ensaios para descontruir a candidatura de Lula-PT.
Nesse cenário de quase desalento, registramos resultados importantes no combate à pandemia, graças ao SUS e ao empenho de governadores e prefeitos: atingimos a marca de mais de 150 milhões de vacinados na primeira dose, cerca de 70% da população. A média móvel de mortes vem decrescendo, chegando ao número mais baixo (319 mortes) nos últimos meses. Vimos também Bolsonaro ser vaiado em Aparecida do Norte, no dia 12, pouco depois do arcebispo ter dito em sua homilia que “pátria amada não pode ser pátria armada”. Aguardamos os desdobramentos da CPI da Covid, cujo relatório está para ser divulgado na próxima semana. E os caminhoneiros sinalizam com nova greve para o início de novembro, se o governo não atender suas reivindicações. A conferir.