A escolha da obra se deu por ser um belo filme e por se tratar de uma abordagem diferente da história de Anna Karenina, contada da perspectiva de seu amante, o Conde Vronsky.
Dirigido por Karen Shakhnazarov e falado em russo, é protagonizado pela bela Elizaveta Borvarskaya, como Anna, e pelo charmoso Maksin Matyeyev no papel de Vronsky. O diretor opta por narrar o essencial do romance de Leon Tolstoi, em cenas puxadas pela memória do personagem, entremeadas por outras da batalha em curso na Manchúria de 1904, durante o conflito russo-japonês e 30 anos depois da trágica morte de Anna. Seu filho, agora médico e responsável pelo hospital de campanha onde Voronsky está sendo tratado, faz a pergunta que o atormenta desde pequeno: o que levou sua mãe a suicidar-se?
Ao afirmar que “as pessoas só lembram o que escolhem lembrar” e depois de certa hesitação, Vronsky entrega-se ao jogo da memória, como se estivesse em busca de si mesmo. As cenas narradas fluem com realismo e beleza, situando o espectador no clima do romance, um dos maiores clássicos da literatura universal. O primeiro encontro na estação de trem, o brilho dos olhos que se cruzam sem conseguir disfarçar a atração e o desejo; a memorável cena do baile, cujo requinte e beleza lembram cena semelhante do filme de Visconti, O Leopardo; a paixão que os consome, o cruzar do amante com o marido traído na porta da própria residência, a coragem de revelar o adultério e não conseguir o divórcio do marido que a proíbe de ver o filho; a hipocrisia da elite de São Petersburgo de 1874 que repudia Anna, ao mesmo tempo em que aceita a transgressão de Vronsky, o desespero que antecede à escolha final.
O romance foi filmado inúmeras vezes e protagonizado por atrizes que se confundem com a história do cinema. Vale lembrar algumas. Greta Garbo, em 1935, dirigida por Clarence Brown. Vivian Leigh, sob a direção de Julien Duvivier em 1948. E Jaqueline Bisset, no auge de sua beleza, dirigida por Simon Langton em 1985.
Existe outra razão para ter comentado o filme: a história de Anna influenciou Rebeca, personagem do romance Escrevo porque te amo, que publiquei este ano, em matéria apresentada em outra parte do Blog. Confira!
Onde ver o filme: Belas Artes À LA CARTE. Até 31 de outubro.