Quando criança, meu aniversário, como o de meus irmãos, nunca passou em branco. Era comemorado de forma singela. Mamãe fazia um bolo, sempre o mesmo coelhinho coberto com glacê branco e coco ralado, servido com chocolate quente ou guaraná. Presentes eram aqueles trazidos pelas madrinhas Ceci e Vitória.
Não me lembro de minha mãe comemorar seu próprio aniversário. Com o passar do tempo, a data tornou-se um dia alegre. Ela passava grande parte da manhã atendendo aos telefonemas de filhos que moravam fora e de amigas que, por um motivo ou outro, não viriam cumprimentá-la à tarde, em reuniões alegres, cuidadosamente preparadas. Tornaram-se tradição. Sua cama ficava coberta de presentes e a comemoração terminava com uma foto do grupo que prometia voltar no ano seguinte.
O grupo foi diminuindo, com o falecimento de algumas dessas simpáticas senhoras, ou com a mudança de algumas para outras cidades. O tempo de vida de cada uma, como é natural, também foi mudando, embora mamãe se ressentisse do distanciamento. Entrando nos setenta anos, ela passou a dizer que nunca tivera uma festa de aniversário de verdade. Nunca entendi bem esse comentário, por considerar suas comemorações momentos plenos de alegria e de afeto.
Então resolvi preparar, de surpresa, uma celebração diferente dos seus 75 anos. Encomendei um arranjo com igual número de botões de rosa vermelha. Levei de São Paulo tortas e salgadinhos encomendados num buffet. Organizamos a recepção no espaço da churrasqueira, defronte ao jardim sombreado pelo enorme pé de manga e coberto por folhagens exuberantes.
Amigas do antigo grupo compareceram. Vieram também alguns jovens e adolescentes que haviam se acostumado a chamá-la carinhosamente de vó. A comemoração foi alegre, a conversa animada, a cama ficou novamente coberta de presentes. Mas havia no olhar de minha mãe um quê de nostalgia. Talvez sentisse a falta de velhas amigas, aquelas que haviam se despedido definitivamente da vida, e outras cuja distância era sentida com certa amargura.
Talvez, imagino, as verdadeiras festas de aniversário tivessem sido as inúmeras outras, mais singelas e, no entanto, carregadas de ternura.