De 21 a 30 de abril/2024
Cresceu, na última semana, a mobilização de estudantes universitários norte-americanos contra o extermínio da população palestina em Gaza por Israel, guerra patrocinada pelo governo Biden.
Outro fato em destaque na mídia internacional foi a ofensiva da extrema direita na Espanha contra o governo Sanchez, exigindo sua renúncia por suposto caso de corrupção envolvendo sua esposa. No discurso em que anunciou a decisão de continuar no cargo, “Sánchez destacou o fenômeno que está afetando a Europa, os EUA, a América Latina e a democracia em todo o mundo: a desinformação como base para decisões políticas.”
O que ocorreu na Espanha deve ser visto como parte de uma estratégia global que vem sendo implementada em vários países para desacreditar e desestabilizar governos democratas de esquerda e de centro-esquerda, como ocorreu em Portugal, levando à renúncia do governo socialista. “A resposta em Madri ocorre dias após a extrema direita global reunir seus principais líderes em Budapeste para articular uma aliança visando eleições importantes em 2024, especialmente para o Parlamento Europeu em junho e nos EUA em novembro”, destaca a matéria publicada no DCM.
A ideia de enfrentar a extrema-direita de forma articulada no plano internacional foi defendida pelo presidente Lula, mas encontra-se num estágio embrionário, como se pode ver na sua declaração: “Os setores de esquerda, progressistas, os setores democratas têm que se organizar. Eu falei com Pedro Sánchez, falei com Macron, estou tentando ver se a gente consegue fazer uma reunião com os chamados presidentes democratas, por ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas, para a gente definir uma estratégia de como vamos, a nível internacional, enfrentar o crescimento da extrema-direita e suas matizes.”
A bola da vez na América do Sul está sendo o governo Petro, na Colômbia. A extrema-direita conseguiu mobilizar a direita, setores de centro e até parte da esquerda nas manifestações ocorridas na capital e em várias cidades do interior contra as reformas na área da saúde, trabalho e previdência, assim como contra o plano de “Paz Total”, que busca encerrar décadas de conflito armado no país. A correlação de forças no continente se alterou com a vitória da direita e da extrema direita nas eleições na Argentina, Equador, Paraguai e Uruguai, e com o golpe no Peru. E quase conseguiram dar o golpe no Brasil. Não seria por aqui que a estratégia de Lula de combate à extrema-direita devia começar a se estruturar? Enquanto isso não acontece, é bem vinda a iniciativa de uma comitiva de parlamentares brasileiros de esquerda de agendarem conversas com seus pares no Congresso norte-americano para se contraporem aos ataques de Musk e de bolsonaristas à democracia brasileira.
A semana começou com uma onda de otimismo por parte do governo Lula. Depois da reunião com Lira, que admitiu ter recuado da posição ofensiva, o presidente afirmou que é o governo que precisa do Congresso, conclamou ministros para a ação mais direta com os parlamentares, botou pano quente nas tensões, sinalizou a negociação para se chegar a acordo em relação às divergências envolvendo apreciação de vetos presidenciais, liberação de emendas e projetos como o Perse, o quinquênio para juízes e a desoneração da folha de pagamentos.
Reuniu profissionais da imprensa em um café da manhã no Palácio do Planalto na terça-feira (23/4). Abordou o recente lançamento do programa Acredita, que busca ampliar o acesso ao crédito no país aos Microempreendedores Individuais (MEIs) e às micro e pequenas empresas, e a expectativa de crescimento da economia brasileira, que conta com anúncio de quase R$ 130 bilhões de investimentos da indústria automobilística. Disse não ser movido pelo mercado, mas pelas ações para melhorar a vida dos brasileiros: “Sou movido por soluções ao povo pobre desse país, ao povo trabalhador, e à classe média, que é quem paga imposto de renda.” Foi generoso ao comentar a greve do funcionalismo federal: “Ninguém será punido nesse país por fazer greve. Eu nasci fazendo greve. Então eu devo aos trabalhadores de São Bernardo o que sou hoje. Acho que é um direito legítimo. Só que eles têm que compreender que eles pedem quanto querem, a gente dá quanto a gente pode. E aí tudo volta ao normal.”
Reiterou a crença na estabilidade nas relações com o Congresso: “Eu estou convencido de que estamos numa situação de muita tranquilidade na relação com o Congresso Nacional.” Na Câmara prevaleceu o clima de normalidade e de empenho no encaminhamento dos projetos de interesse do governo, particularmente a regulamentação da reforma tributária, projeto entregue aos parlamentares pelo próprio ministro Haddad e considerado “a joia da coroa”. Há a expectativa de que seja votado até o final de julho. Em síntese, foi uma aula de como funciona a democracia no seu governo.
O clima mudou, especialmente no Senado, com o recurso da AGU ao Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a desoneração de impostos sobre a folha de pagamento de 17 setores da economia e de determinados municípios. O recurso foi acatado em decisão monocrática do ministro Cristiano Zanin. A proposta, defendida por Haddad na busca do equilíbrio fiscal – a desoneração pode levar à perda de arrecadação de R$ 10 bilhões anuais, rombo que pode comprometer o pagamento de aposentadorias – desagradou o Senado, particularmente seu presidente, de olho nas eleições de 2026 quando deverá concorrer ao governo de Minas Gerais. Sem dar ouvidos ao ministro da economia, para quem o Congresso também é responsável pela estabilidade das contas públicas, Pacheco reagiu: “Nossa posição é de antagonismo neste caso em relação ao governo federal, à AGU.”
O azedume no Senado espraiou-se pelo Congresso, com a direita aproveitando para criticar o governo por roer a corda e não cumprir acordos. Cabe à esquerda uma defesa mais contundente da política de estabilidade fiscal defendida por Haddad: “A reforma da previdência tem uma cláusula que tem que ser considerada porque, senão, daqui três ou cinco anos você vai ter que fazer outra reforma da Previdência, se não tiver receita. Então nós temos que ter muita responsabilidade com isso.” Esse é o debate que a esquerda devia estar fazendo na busca do discurso contra-hegemônico.
A extrema-direita não teve dias melhores. A manifestação organizada por Bolsonaro em Aracaju foi novamente um completo fiasco. O advogado do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques afirmou que seu cliente está prestes a firmar acordo de delação que poderá complicar ainda mais a situação do ex-presidente. Um agente e um delegado da Polícia Federal brasileira embarcaram rumo aos Estados Unidos na quinta-feira (25), dando continuidade às investigações sobre a venda das joias recebidas por Jair Bolsonaro em viagens oficiais. A PGR (Procuradoria Geral da República) apresentou uma denúncia contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker da “Vaza Jato”, Walter Delgatti, pelos crimes de invasão a dispositivo informático e falsidade ideológica. Conferindo ao quadro um tom grotesco, o deputado Eduardo Bolsonaro – logo quem! – homenageou o primeiro-ministro da Hungria, Victor Orbán, com a medalha de “imbrochável”!
Procurando se distanciar da extrema-direita, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) articulou uma reunião com lideranças da direita – Valdemar Costa Neto (PL), Marcos Pereira (Republicanos), Gilberto Kassab (PSD), Baleia Rossi (MDB) e Antônio Rueda (União Brasil), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Rodrigo Garcia (sem partido), Michel Temer (MDB), Paulinho da Força (SD), Tomé Abduch (Republicanos), Milton Leite (UB) e Aldo Rebelo (MDB) – buscando atribuir à provável coalizão o ar de “frente ampla”, com o papel de superar a atual polarização entre Lula e Bolsonaro.
Na disputa pela Prefeitura de São Paulo, “o deputado federal e pré-candidato pelo PSOL, Guilherme Boulos, mantém a liderança com 35,6% das intenções de voto. Seu concorrente mais próximo, o atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), aparece com 33,7% das intenções, estabelecendo um cenário de empate técnico dentro da margem de erro.” A candidata pelo PSB, Tabata Amaral, detém 14,7% das intenções de voto e poderá ser o fiel da balança num segundo turno da corrida eleitoral.