Semana de 25 a 31 de julho/2022
Os destaques no plano internacional sinalizam um cenário de crise econômica. O PIB norte-americano encolheu pelo segundo semestre consecutivo (-9%), indicando recessão técnica. O Fed anunciou nesta quarta-feira (27) um novo aumento de 0,75 ponto percentual da sua taxa de juros, elevando a meta máxima para 2,5% ao ano.
Diante da ameaça da empresa russa Gazprom de cortar os fluxos através do gasoduto Nord Stream 1 para a Alemanha para um quinto da capacidade, países europeus anunciaram um plano de emergência para conter a demanda, depois de fechar acordos de compromisso para limitar as reduções para alguns países. O governo norte-americano teme que uma crise no bloco possa minar a unidade da União Europeia contra Moscou. Os sinais de descontentamento começam a surgir. A decisão de reduzir em 15% o consumo de gás natural, entre agosto de 2022 e março de 2023, período que abrange o inverno europeu, gerou revolta na opinião pública da França.
Alguma coisa parece não estar dando certo com a estratégia dos países ocidentais que se coligaram para impor sanções drásticas à Rússia pela invasão da Ucrânia. As medidas parecem não ter tido o resultado esperado, pois o Kremelin tem conseguido manter a inflação em nível relativamente baixo, o rublo foi a moeda que mais se valorizou no mundo, os russos ampliaram as exportações para a China e países asiáticos e impõe aos europeus a progressivo, e perigosa, redução de exportação de gás natural, vital para mover a economia e aquecer residências no próximo inverno. Depois do revés na primeira fase da invasão, Putin concentrou suas forças na região de Donbass, onde consolidou o controle do território, avança pelo Sul, onde continua bloqueando o acesso da Ucrânia ao Mar Negro e seu chanceler avisou que a conquista pode não se limitar a essas regiões.
Uma análise do que está acontecendo neste campo mais amplo da disputa internacional foi feita recentemente pelo economista José Luís Fiori. O cenário que ele vislumbra para o Ocidente, aí incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, é pouco alentador. Segundo o economista, o conflito reconfigura a ordem mundial: “Incapazes de ‘disciplinar’ Moscou, EUA perdem condição hegemônica. O G7 declina, sob pressão de um BRICS ampliado. E aliança geopolítica entre China e Rússia põe em xeque séculos de eurocentrismo”. Segundo ele, em poucos anos “o sistema interestatal se universalizou, a hegemonia dos valores europeus está acabando, o império americano encolheu, e o mundo está passando de um ‘unilateralismo quase absoluto’ para um ‘multilateralismo oligárquico agressivo’, em trânsito na direção de um mundo que viverá por um tempo sem uma potência hegemônica. ” Conferir texto em anexo.
No plano nacional, a movimentação crescente da sociedade civil em defesa da democracia foi um dos principais destaques. Seguindo a tradição de décadas anteriores, em que um documento semelhante galvanizou a atenção nacional na luta contra a ditatura, a Faculdade de Direito da USP lançou uma nova versão da Carta aos Brasileiros. O documento que passou a circular no Brasil nesta semana segue à risca uma das principais lições de intelectuais que estudam o avanço do autoritarismo mundo afora: formar uma coalizão tão ampla quanto possível é a melhor maneira de barrar aventuras golpistas. “Clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições. No Brasil atual não há espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições”, afirma o documento.
Já conquistou centenas de milhares de assinaturas e deverá ser oficialmente lida no átrio da faculdade no próximo dia 11 de agosto. Seguindo a mesma linha e rompendo com anos de alinhamento a Bolsonaro, a Fiesp pretende publicar o manifesto com as assinaturas de adesão dos seus associados nos jornais. As Centrais Sindicais aderiram, como centenas de entidades representativas, além de artistas, personalidades e pessoas comuns.
O movimento coincidiu com a realização em Brasília da Conferência de Ministros da Defesa, onde o representante norte-americano, Lloyd Austin, marcou posição em defesa da democracia: “Nossos países não estão apenas unidos pela geografia. Também nos aproximamos por nossos interesses e valores comuns —por nosso profundo respeito pelos direitos humanos e pela dignidade humana, nosso compromisso com o Estado de Direito e nossa devoção à democracia”. O Ministro da Defesa do Brasil, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, teve que seguir na mesma linha. Em cerimônia de despedida do cargo de presidente do Superior Tribunal Eleitoral, o general de Exército Luís Carlos Gomes Mattos afirmou: “A Justiça Eleitoral é responsável pelo funcionamento real daquilo [eleições]. Nossa missão é diferente. Não temos que nos envolver em nada. Nós temos que garantir que o processo seja legítimo, essa é a missão das Forças Armadas”.
O aguardado resultado das pesquisas eleitorais também esquentou o debate. O quadro mostra relativa estabilidade em relação ao mês anterior. Lula tem 18 pontos sobre Bolsonaro e, considerando os votos válidos, pode vencer no primeiro turno. Bolsonaro oscilou levemente para cima (1 ponto), quadro que demonstra não ter ainda surtido o efeito esperado de suas benesses, nem de suas ameaças. Segundo analista, se “mantiver a maioria da baixa renda e receber votos adicionais da elite comprometida com a democracia, além da classe média típica, Lula seguirá na liderança sem deixar que Bolsonaro avance. Ele só cresce tirando votos de Lula”.