Semanas de 9 a 22 de maio/2022
As duas semanas de 9 a 22 de maio foram pródigas em fatos relevantes nos cenários internacional e nacional. No Leste Europeu, a guerra na Ucrânia teve desdobramentos importantes, seja na consolidaçde posições pelas forças invasoras, seja no tabuleiro das relações Internacionais.
A Rússia declarou a vitória em Mariupol, depois de semanas de combates acirrados. Não esperavam tamanha resistência dos soldados ucranianos, que acabaram deixando o abrigo no complexo de Azovstal. O exército russo afirma ter capturado cerca de 2.430 combatentes na região. Segundo informações do serviço de inteligência norte-americano, Putin prepara-se para uma guerra prolongada. A retirada de outros fronts, depois do fracasso em capturar Kiev, teria sido uma reação e movimento tático. Assegurado o controle da região de Donbass, a tomada de outras regiões a leste voltaria à carga. Uma empreitada e tanto, considerando a já demonstrada capacidade de resistência do exército ucraniano e o significativo apoio recebido dos países membros da OTAN, particularmente os Estados Unidos. O congresso norte-americano sancionou o projeto de Biden de ajuda de 40 bilhões de dólares à Ucrânia. Parte significativa desta ajuda será realizada em armamentos.
Suécia e Finlândia apressaram o processo de pedido de entrada na OTAN, rompendo com uma tradição e neutralidade de longa data. O Kremlin não tardou a retaliar, além de ameaçar. Cortou o fornecimento de gás para a Finlândia, uma relação comercial de cerca de 50 anos. No front diplomático, ordenou a expulsão em massa de diplomatas ocidentais em resposta a medida semelhante adotada pela Itália, França, entre outros países. O governo francês repudiou a ação, afirmando que os diplomatas russos foram expulsos do país por espionagem, uma violação de convenções internacionais. As relações comerciais entre a Rússia e a China continuam avançando de vento em popa, cresceram 25%. Por outro lado, a compra de combustíveis, especialmente o gás, paga em rublos pelos países importadores da Europa, soma-se ao crescente fluxo comercial com a China para manter a estabilidade da moeda russa, apesar de todas as sanções adotadas pelo Ocidente. O governo russo bloqueia as exportações de alimentos ucranianos pelo Mar Negro, processo que impede as compras da FAO e que aumentará a fome em países que dependem da sua ajuda humanitária, segundo a instituição.
Depois de muitos anos de governo conservador e totalmente alinhado aos Estados Unidos, a oposição de centro-esquerda, comandada pelo Partido Trabalhista, venceu as eleições presidenciais na Austrália. Pesou no resultado o apoio de setores políticos com forte apelo na defesa do meio ambiente. Na América do Sul, ganham notoriedade as eleições presidenciais na Colômbia, onde o candidato da esquerda tem chances de vencer. No entanto, a disputa vem sofrendo forte impacto das forças paramilitares que, além de ameaças à vida de Gustavo Petro e membros da coordenação de sua campanha, chegaram a sequestrar vários militantes nas últimas semanas.
No plano nacional, o governo Bolsonaro tem pressa, pressionado pelos resultados desfavoráveis da economia e das pesquisas eleitorais. Tem acelerado, sem qualquer discussão com a sociedade, a aprovação do projeto que reconhece o ensino domiciliar, medida que pode minar a política nacional de educação. Tem pressa também em finalizar a privatização da Eletrobras. Na busca de uma saída para a escalada dos preços dos combustíveis, pressiona o Congresso para aprovar o projeto que redefine a regulação da cobrança do ICMS, com impacto negativo na arrecadação dos estados, apontados por Bolsonaro como vilões da disparada dos preços do diesel, ao lado da Petrobras. Descontente com a política de preços da empresa, não hesitou em demitir, mais uma vez, seu presidente, cujo mandato mal durou quarenta dias. Não hesitou também em demitir o ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, que questionava a política de pressão sobre a Petrobras.
Bolsonaro também tem pressa em assegurar recursos para sua campanha eleitoral. O Ministério da Economia anunciou o corte adicional de R$ 8,2 bilhões no Orçamento para evitar o estouro do teto de gastos, regra fiscal que limita o crescimento das despesas à variação da inflação. E para fazer caixa para a campanha, diga-se de passagem. Noutro movimento para manter laços estreitos com as FFAA, blindou fundos militares da desvinculação de R$ 166,2 bilhões em recursos feita no ano passado para facilitar a administração da dívida pública. O remanejamento contábil visa dar mais liberdade ao tesouro Nacional na gestão do caixa da União.
Dados da economia continuam ruins para o governo, resultado do desgoverno nessa e em outras áreas. O custo da dívida pública deve subir R$ 580,1 bilhões em 12 meses com a taxa básica, a Selic, a 13,25% ao ano, percentual estimado pelo mercado financeiro para 2022. O dólar engatou a terceira alta consecutiva e fechou o pregão no maior patamar em quase dois meses, acima de 5,15 reais, com investidores começando mais uma semana em favor da moeda norte-americana, considerada porto seguro em tempos de inflação alta, juros para cima e risco de baixa econômica no mundo. A Petrobras anunciou, no dia 9 de maio, o reajuste de 8,9% no preço do diesel nas refinarias. Na sequência de descalabros, merece destaque mais um dado que revela o descaso de Bolsonaro com a maioria dos brasileiros que vive do trabalho: seu governo será o primeiro, na história recente do país, em que o salário mínimo deverá encolher. Pelo cálculo de especialistas, a perda será de 1,7%.
No Congresso, o presidente do Senado repudiou com veemência a ameaça golpista de Bolsonaro, desmascarada na semana anterior e que continuou repercutindo nacionalmente e no exterior. Do governo Biden veio, de forma indireta, o repúdio mais contundente. É o que se lê no artigo do ex-diplomata Scott Hamilton amplamente distribuído no meio diplomático, com aval do Departamento de Estado, e publicado na imprensa: “Os Estados Unidos deveriam deixar claro de modo cristalino ao presidente Bolsonaro que uma tentativa de interferir na integridade do processo eleitoral brasileiro será objeto de repúdio absoluto e de sanções punitivas a todos os envolvidos, impostas simultaneamente por um amplo grupo de países”.
Em sintonia, a futura embaixadora norte-americana no Brasil, Elizabeth Bagley, afirmou, ao ser sabatinada pelo Congresso norte-americano: “[O presidente Jair] Bolsonaro tem dito muitas coisas, mas o Brasil tem sido uma democracia, tem instituições democráticas, Judiciário e Legislativo independentes, liberdade de expressão. Eles têm todas as instituições democráticas para realizar eleições livres e justas”. A ameaça de golpe foi escancarada numa longa reportagem publicada pela Revista Carta Capital onde os golpistas, envolvendo generais e militares da reserva e da ativa, têm nome e sobrenome e as relações com a empresa israelense contratada para fazer auditoria das eleições são rastreadas. A ameaça também foi confirmada em inquérito conduzido pela PF onde o general Luiz Eduardo Ramos e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), ligada ao Gabinete de Segurança Institucional chefiado pelo general Augusto Heleno, são apontados como atuantes na busca de informações contra as urnas eletrônicas desde 2019.
Simultaneamente, o Tribunal Superior Eleitoral rejeitou todas as propostas das Forças Armadas para as eleições deste ano. Segundo a corte eleitoral, houve erros de cálculo no documento enviado pelos militares para questionar a segurança das urnas. O TSE também afirmou que várias das medidas indicadas como necessárias para ampliar a integridade do pleito já são adotadas. Pressionado, Bolsonaro recuou.
No período das duas semanas consideradas, o quadro eleitoral manteve-se estável, com o ex-presidente Lula na frente, segundo a pesquisa Ipesp: Lula manteve 44% das intenções de voto, Bolsonaro 32% e Ciro 8%.